Arquitetura como Expressão da Identidade Pessoal
Considerada uma expressão artística que transcende a função de construir espaços físicos, a arquitetura nos explica que o espaço em que vivemos é uma extensão de quem somos, e, quando há uma integração harmoniosa entre design e arte, o ambiente se transforma em uma verdadeira experiência estética e emocional.
A relação entre essas disciplinas, que possuem objetivos distintos, mas capazes de atuar de forma interdependente, têm o poder de transformar o ambiente construído em uma experiência rica e multifacetada, onde a funcionalidade, a estética e a emoção se entrelaçam para criar espaços que vão além de sua utilidade prática.
A arquiteta Fernanda Marques, a frente do escritório que leva seu nome, destaca que a integração desses elementos não apenas molda o espaço no campo residencial, mas também gera emoções e diálogos profundos com quem o habita.
Na visão de Fernanda, o design não é uma mera adição estética. Ele é o fio condutor que une a funcionalidade do espaço à sua capacidade de provocar sensações. “Adoro misturar códigos, descobrir poesia nos objetos do cotidiano“, comenta ressaltando o papel dos detalhes em criar uma narrativa sensível em cada projeto. Em seu projeto CARBONO, por exemplo, o uso de madeira no teto de um apartamento no oitavo andar de São Paulo, com vista para o Parque do Ibirapuera, transforma o ambiente urbano em um refúgio natural.
A escolha não foi apenas estética, mas uma resposta à necessidade emocional dos clientes de se sentirem como se estivessem morando em uma casa no campo, mesmo no coração da cidade. Na parede central, uma tela em azul intenso de Ana Jobim reforça a linearidade do ambiente, enquanto na sala de jantar, uma luminária minimalista do designer cipriota Michael Anastassiades arremata a composição.
A Influência da Arte na Composição dos Espaços
Nesse contexto, a arte tem um papel fundamental no trabalho do escritório, não apenas como uma forma de decorar o ambiente, mas como um elemento que interage ativamente com o espaço. Tomando o projeto ERETZ como exemplo, a arquiteta colaborou ativamente com os clientes para construir uma coleção de arte que não só ornamenta, mas também adiciona significado à residência.
Obras de artistas como James Kudo, Marcia Xavier, Betina Vaz, Estela Sokol, Guilherme Dable, Arthur Lescher e Laura Vinci se integram aos móveis contemporâneos, criando uma harmonia entre o novo e o clássico, o simples e o sofisticado. Essa simbiose entre arte e design dá vida a espaços que ultrapassam o convencional, tornando a casa um lugar de contemplação.
Em OSKAR, o projeto parte do princípio de ser uma espécie de palco cênico, tendo como base cromática o cinza, presente nos revestimentos e estofados. A área social concentra verdadeiras preciosidades em termos de arte e design: fotografia de Balleister, tela em vermelho intenso de Gabriela Costa, gravuras de Barsotti, escultura de parede de Marcelo Silveira, fotos de Luc Bresson e uma poltrona Vermelha, de Fernando e Humberto Campana.
A Importância dos Materiais Naturais na Arquitetura Moderna
Outro aspecto central da filosofia de Fernanda Marques é o uso de materiais que remetem a uma estética natural e atemporal. No projeto KINTSUGI RESIDENCE, a arquiteta fez uma curadoria minuciosa, escolhendo peças de design que exaltam materiais ancestrais como rochas e madeira em sua forma mais próxima ao natural. “Sempre busco valorizar tanto os cheios quanto os vazios”, explica Fernanda, referindo-se à sua abordagem minimalista que enfatiza a harmonia entre o espaço e os elementos artísticos. Nesse contexto, os objetos não são meros adornos, mas parte de uma narrativa visual que enriquece o ambiente. Aqui, o espaço conta com obras de Abraham Palatnik, Julio Le Parc, José Patricio e Fernando Velasquez, além de acessórios de design autoral da Firmacasa e Dpot Objetos, ou assinadas pelo Estúdio Niz, St. James e Jacqueline Terpins.
Ainda, a iluminação é protagonista nos projetos. No LONDON PENTHOUSE, um dos maiores desafios foi garantir que as obras de arte do casal de colecionadores, incluindo peças de Adriana Varejão e Zhang Huan, fossem apresentadas de maneira ideal. Para isso, a iluminação foi cuidadosamente planejada para criar um equilíbrio entre luz natural e artificial, destacando as obras sem sobrecarregar o ambiente. Esse projeto, que recebeu o prêmio A’Design Awards 2016 – Gold, é um exemplo de como a luz pode ser tão essencial quanto qualquer outra matéria-prima na construção de uma residência que seja tanto funcional quanto esteticamente envolvente.
Transformando a Arquitetura em Arte
Quando design e arte se unem à arquitetura, o resultado é uma residência que vai muito além de sua função prática. O espaço torna-se um ambiente vivo, onde cada objeto, cada escolha de material, e cada obra de arte contribui para uma experiência estética completa e imersiva. “O objetivo é sempre criar uma casa com identidade própria, um refúgio para a alma“, finaliza Fernanda. Assim, a arquitetura se revela não apenas como construção, mas como verdadeira arte viva, que transforma e inspira quem a vivência.